Festa nas
arquibancadas ainda é encantadora, mais por diversas ocasiões o que era para
ser um festejo transformou-se em um cortejo fúnebre.
A festa
nas arquibancadas ainda é encantadora. O grito ecoado nos estádios é
inconfundível. Balões, confetes, serpentinas, cantos ensaiados em coro, fogos
de artifício e às vezes até mosaicos deixam o espetáculo mais bonito, mais
colorido. Tudo isso define o significado do futebol para os milhões de
brasileiros apaixonados por esse esporte. Teoricamente, as “torcidas
organizadas” são grupos formados por torcedores que vão aos estádios
uniformizados com camisas padronizadas com marca própria, além de faixas,
bandeiras e instrumentos de bateria. Porém, na prática, nem todas são assim, e
por diversas ocasiões o que era para ser um festejo transformou-se em um
cortejo fúnebre.
Algumas fazem jus ao nome, são realmente organizadas, incentivam as suas equipes durante o jogo inteiro, sem parar, empurram o time do coração para cima do adversário, têm competência até para ajudar a reverter uma derrota que já parecia consumada. No entanto, outras torcidas não existem apenas com a finalidade óbvia de torcer, elas vão aos estádios também com a intenção de bagunçar, causar transtorno, estragar o espetáculo, tirar o foco da partida para a pancadaria generalizada nas arquibancadas com as facções rivais. São capazes até de matar por causa de provocações e/ou gozações em uma simples partida futebolística.
No Brasil, os grupos surgiram no século passado, em 1939, com a Torcida Uniformizada do São Paulo, do Tricolor Paulista. Com o passar dos anos, o aparecimento de novos clubes e a popularização do futebol, o número de torcidas organizadas no país cresceu. Atualmente, existe aproximadamente 1.500 Brasil afora. Desde as maiores do território nacional, como, por exemplo, Flamengo e Corinthians, aos clubes de menor expressão, elas estão espalhadas pelas cinco regiões do país. Sejam identificadas por uma faixa, ou infiltradas e disfarçadas, no meio dos verdadeiros torcedores, para driblar as determinações da Justiça.
O nome mudou, mas a atitude...
Os
integrantes de torcidas “organizadas” de Paysandu e Sport Recife (PE)
mostraram, na quarta-feira (4) da semana passada, em Belém, o motivo o qual a
Justiça do Brasil pretende acabar com essas facções em todo o país. Durante o
jogo de ida entre paraenses e pernambucanos pela segunda fase da Copa do
Brasil, alguns baderneiros travestidos de torcedores das duas equipes
provocaram um verdadeiro caos no Mangueirão. Quebraram cadeiras, atiraram paus
e pedras uns nos outros, causaram pânico e, em aproximadamente vinte minutos de
muita confusão, acabaram com o sossego de quem foi ao estádio para assistir ao
duelo das quatro linhas.
O confronto aconteceu devido às parcerias antigas das torcidas paraenses com a de times de outros estados, embora os principais grupos de Clube do Remo e Paysandu tenham sido extintos, pelo menos oficialmente, há quase cinco anos. A antiga Terror Bicolor virou Torcida Bicolor, enquanto a ex-Remoçada mudou para Remista. Os nomes são outros, porém os membros continuam os mesmos.
A união das torcidas paraenses com a de outros clubes do Brasil aumenta a rivalidade. Daí a explicação para a pancadaria da semana passada, algo que também deve se repetir amanhã, quando Remo e Bahia se enfrentam no Mangueirão, às 21h50, uma vez que a Torcida Bicolor é unida com a Bamor, do Bahia, enquanto a Remista tem parceria com Os Imbatíveis, do Vitória.
Extintas só no papel
As
facções Grêmio Recreativo e Social Torcida Uniformizada Terror Bicolor e
Associação Desportiva Independente Torcida Organizada Remoçada deveriam ter
desaparecido dos estádios em 2007, quando o juiz Marco Antônio Lobo Castelo
Branco, em exercício na 1ª Vara da Fazenda da Comarca de Belém, determinou, em
sentença, a extinção de ambas, devido a uma pancadaria num ginásio que resultou
na morte de um vigilante.
Na teoria, elas estão proibidas de frequentar as praças esportivas paraenses. No entanto, na prática, a amortização das organizadas impede apenas que qualquer pessoa vá aos estádios do Pará com qualquer tipo de material alusivo a alguma das torcidas. Ou seja, as pessoas continuam as mesmas, porém disfarçadas.
Atualmente chamadas de Remista e Torcida Bicolor, ambas promovem campanhas de solidariedade, como, por exemplo, arrecadação de alimentos, doação de sangue, além de outras atividades em prol da sociedade. Porém, o problema acontece quando uma está diante da outra.
Antes do episódio da quarta-feira passada, as duas torcidas já haviam se enfrentado em 2011, antes da partida entre Paysandu e América (RN), na Curuzu, quando “torcedores” da equipe potiguar se uniram aos remistas e entraram em conflito com os bicolores do lado de fora do estádio alviceleste.
“Ainda sou contra muita coisa que acontece lá dentro, mas no geral eu acho que já diminuiu bastante essa questão da violência. Os confrontos também ocorrem porque uns são de gangues de um bairro, alguns de outro, e por aí vai”, revela um torcedor bicolor que prefere não se identificar.
Remista, o vendedor Afonso de Almeida não é a favor do fim das torcidas, porém cobra mais organização. “A própria torcida deveria tomar uma atitude com os que cometem erros. Por um pagam todos, por isso querem acabar com as torcidas”, diz.
O tenente-coronel Hilton Benigno de Souza, subcomandante do Centro de Policiamento da Capital (CPC), conta que a Polícia Militar sempre se reúne com os membros de torcidas organizadas antes dos jogos de maior relevância, porém o problema não é resolvido. “Deveria começar pela modernização da Justiça, com a criação de instâncias destinadas a tratar exclusivamente da violência nos estádios, seguida de punições mais rígidas e melhor aplicação, de fato, do Estatuto do Torcedor. Além disso, as diretorias de Clube do Remo e Paysandu precisam acabar com os ingressos gratuitos para as suas torcidas organizadas, porque isso facilita a violência”, crítica.
Fonte:
Diário do Pará, com informações Rádio Clube.
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